Entre limiares e passagens – Mônica Zielinsky

Imagens sobrepõem imagens, umas sobre as outras, como recortes de distintas vivências. Com isso, entrelaçam-se nessas obras lugares diversos, tempos deslocados, mas mais que isso, por elas somos instigados ao trânsito comparativo e às conexões. Diferentes situações da experiência subjetiva, indicadores de diferentes culturas rasgam a continuidade das imagens e simulam, ao mesmo tempo, a continuidade impossível.

Na sutileza destes procedimentos que a fotografia permite, abre-se, na produção de Letícia Lampert uma instigante troca entre o momento do registro e o vasto campo da experimentação. Esses trabalhos levam a rever o contexto dos lugares apreendidos em seu momento inicial, ao abrirem posteriormente outros novos, através do recurso da sobreposição. Trazem à superfície das imagens a desterritorialização de espaços e culturas e sua rearticulação com outros, captados em distintos pontos do globo, como no Brasil e na Austrália.

São obras que se abrem a perspectivas multifocais de apreensão, seja sobre assuntos da subjetividade e formas de existência, como sobre as culturas em seus movimentos particulares, também sobre as concepções temporais da experiência humana.

Mais que isso, essas imagens seduzem-nos a pensar sobre as passagens entre o real e o virtual, nas quais estes limiares poéticos se impõem como um convite irrecusável ao pensamento.

Mônica Zielinsky
Julho de 2012

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